Ou eu já passei da idade, não passei?
Segunda feira, dia 01 de setembro de 2008. Primeiro dia de venda de ingressos para o show da Madonna no Rio, 15 anos depois do primeiro. Eu, que havia dito para quem quisesse ouvir que não perderia o show por nada e que queria ir de VIP, acordei cedo e às 8h da manhã, junto com a esposa, cheguei à tal fila em frente ao maracãnazinho.
Eu estava preparada para encontrar uma fila bem maior do que a que encontrei. Deveria haver umas quinhentas pessoas na minha frente. Não era, de fato, muita gente. E às onze horas da manhã começaram a vender os ingressos. A fila parecia que iria andar rápido. Em pouco tempo avançamos os primeiros 50 metros. Parecia que em umas duas horas tudo estaria resolvido.
Ledo engano. O que tinha acontecido era a ilusão da fila que levanta. Que, quando um anda um passo, o de trás avança dois, o terceiro, quatro, e a gente, cinqüenta metros. Segunda feira seria um pequeno pesadelo adolescente. Um pesadelo que eu não vivi adolescente e que me sentia um pouco velha demais para passar por aquilo tudo. Horas de espera, fãs enlouquecidos, pessoas de todos os gêneros, idades, maquiagens, e uma equipe da tal tickets4fun desrespeitosa e ineficiente. Além da ausência de poder público, insegurança e gente mal educada.
Saí de lá onze horas depois, de posse de 5 ingressos para mim e minhas amigas, exausta e puta da vida. Ou furiosa, como disse de mim uma jornalista. Eis os motivos da revolta nada adolescente, da qual fui tomada:
Primeira (má) notícia do dia
O mistério dos ingressos VIPs
Mal abriu a bilheteria, seis pessoas teriam sido atendidas e... foram esgotados todos os três mil ingressos VIPs. Várias pessoas que viraram a noite lá, que estavam no começo da fila certas de que conseguiriam comprar os melhores lugares ficaram a ver navios. E se revoltaram, fizeram confusão, com razão. Quiseram quebrar tudo. Mas de nada adiantou. Minutos depois alguns cambistas ofereciam os mesmos ingressos a quem quisesse comprar por 2 mil reais. Os mesmíssimos que valiam 600, na boca do caixa. Mais revolta. Em seguida um homem conseguiu comprar o ingresso VIP na bilheteria, pagando inteira. Logo depois de uma menina que queria pagar meia não conseguir. Mais revolta. Ela chama a polícia. Um funcionário pega o telefone dela e promete um ingresso VIP. O mistério só cresce.
Eu havia passado a manhã lendo o jornal de domingo, no qual havia uma reportagem grande sobre a farra dos ingressos no jogo da final da Libertadores, achei premonitório.
Segunda (má) notícia
O sistema de venda de ingressos
Passavam-se os minutos, as horas e a fila mal se mexia. Quando dávamos dois passos o fato era comemorado com gritos e aplausos. Eu, Mari e nossos amigos de fila nos revezávamos percorrendo a fila até o começo para ver qual era a situação. E então soube-se que a fila não andava porque o sistema de venda de ingressos caís continuamente. Por quê? Porque o sistema era o mesmo para o Maracanazinho, para o outro ponto de vendas e para a Internet, o que congestionava tudo. A Internet caía e a gente caía também. A notícia veio acmpanhada de outra: a de que os mesmos ingressos eram oferecidos em todos os três meios de vendas. Ou seja: Se demorávamos uma hora para 20 pessoas comprarem ingressos na fila, nessa mesma uma hora milhares de pessoas poderiam comprar ingressos via Internet. O que significava que nós poderíamos passar o dia inteiro ali e sair de mão abanando. Para nós não havia qualquer reserva de ingressos.
A empresa respondia a isso dizendo que queria facilitar ao máximo a comprar dos ingressos, economizar o tempo dos fãs e essas babaquices todas. Mas o que é realmente estranho é que, pela Internet há uma tal de “taxa de conveniência” de 20% do valor do ingresso. Mais 20 reais para entrega em casa. Ou seja, um ingresso que custa 600 reais, sairia, pela Internet, 740 reais. Ou seja, para quê dar qualquer prioridade a quem estava na fila, se o lucro era muito maior pela Internet?
Mas a empresa não era apenas malandra. Era também ruim e despreparada, pois o sistema on line travava o tempo todo e muita gente passou a madrugada inteira sem conseguir conectar ou sem conseguir efetuar a compra. Ou mesmo sem conseguir confirmar que havia efetuado a compra mesmo depois de ter dado os dados do cartão de crédito.
As notícias percorriam a fila. A última, ao meio dia era a de que apenas 3 pessoas haviam comprado ingressos VIPs na Internet. O resto havia evaporado. Invencionice ou verdade, aquilo pareceu a todos muito possível e foi repetido por milhares de bocas, como em um telefone sem fio.
Terceira (má) notícia
Ou a santa esperteza de alguns
Ou somos todos uns filhos da puta
Daqui a pouco um amigo de fila vem revoltado e conta: há uma fila para terceira idade lá. Está cheia de velhinhos de aluguel, as pessoas oferecem 50 reais e o velhinho entra na fila. Tem também um monte de mulher gorda se fazendo de grávida. E gente arrumando umas crianças e colocando no colo.
Muita gente também ficava na grade de proteção da bilheteria oferecendo 50 reais para que o “da vez” comprasse seu ingresso.
Mariana vai lá ver. Reclama com a organização. Eles informam que nada podem fazer. E pronto.
Nada podiam fazer também para organizar a fila. Havia furões se enfiando na frente de todo mundo. As pessoas começaram a dar as mãos para fazer um cordão de isolamento. Nenhum funcionário ajudava. Os furões começaram a ser linchados. A desorganização era tanta que daqui a pouco ninguém mais sabia quem era quem. A fila de velhinhos tinha gente de qualquer idade. E não havia a quem pedir socorro.
Toda hora vinha uma notícia “lá da frente” de que estava instaurada uma confusão e que por isso a fila não andava.
Quarta (má) notícia
Os (três) funcionários despreparados
Ou Brincando no arraiá
Uma única funcionária da empresa percorria a fila dando notícias. Acabaram os ingressos da cadeira central. Depois voltava. Foi um erro do sistema, só acabaram os VIPs. Depois de novo. Agora acabaram mesmo as cadeiras centrais. Voltava mais uma vez: não, desculpem, ainda tem, foi um erro do sistema.
(olha chuva! Uhhhh! É mentira! Ahhhhh!)
Não havia a quem reclamar de nada, então reclamei com aquela moça mesmo: vocês estão numa desorganização só. Cadê a ordem da fila? Cadê outros funcionários? A fila não anda! Quem está controlando os cambistas? Ela me respondia. A fila anda sim. É lento, mas anda e nós estamos fazendo o melhor que podemos. E pronto.
O melhor que eles podiam era colocar aquela funcionária percorrendo a fila e dando notícias podiam ou não ser verdadeiras.
Na fila dos velhinhos havia um outro funcionário. A gente reclamava de que os 40 velhinhos tinham 3 caixas enquanto mais de duas mil pessoas só tinham sete. E ele disse: Vocês deveriam aprender a reclamar antes de reclamar. Virou as costas e foi falar com outras pessoas. Eu comecei a gritar mais e mais. Os amigos de fila ficaram preocupados comigo: você está muito nervosa, não vai adiantar nada. Eu respondia: contanto que ele fique nervoso também está tudo certo. Eles, que também não tinham amis o que fazer, se juntaram em mim em coro: Mal educado, mal preparado, filho da puta. E assim seguíamos.
Daqui a pouco chega uma mulher e grita: reclamei da fila dos velhinhos que anda rápido enquanto a nossa está parada. Sabe o que o funcionário respondeu? que eu deveria alugar um velhinho que nem todo mundo e furar a fila. Estou indo para a polícia agora mesmo.
Quinta (má) notícia
Ou polícia para quem precisa!
Em um determinado momento, depois de ver cambistas agindo livremente, depois de não ver policiamento nenhum para dar apoio a um monte de gente obviamente cheia de dinheiro, depois de uma fila mal organizada, eu fui lá na frente tirar satisfações e chamar a polícia. Me veio um policial a paisana, que não se identificou. Foi comigo até mais ou menos onde eu estava na fila. Pediu para que eu identificasse os cambistas. Eu mostrei alguns a ele e ele disse: Ok. Agora você tem que ficar esperando algum comprar, me chamar e ir para a delegacia comigo, ele e o cara que comprou. Eu perguntei se eu teria que ficar cara-a-cara com o bandido ele disse que eu não estava nos EUA. E que eu teria que testemunhar o crime, senão não havia crime. Eu falei: mas a polícia está ali (havia um carro, com dois policiais dentro parados há horas, sem se mexer), por que ela, que está vendo tudo, não faz alguma coisa? Porque não adianta nada. Como assim? É, no final, não adianta nada mesmo. Para que prender? Indignada, ainda pedi por favor para colocar algum policial fazendo a ronda da fila, pois éramos alvo fácil para bandidos. O policia respondeu que isso também não ia adiantar nada, que eles não iam poder ajudar a gente. Virou as costas e foi embora. Me deixando de cara com os cambistas que me encaravam.
Nisso uma repórter e abordou e escreveu uma matéria me classificando de jovem furiosa.
Pois é. Jovem furiosa. Logo eu...
Ps: Outro indignado:
http://www.madonnanow.com.br/mznews/noticias.php?mzn_pg=2
Segunda feira, dia 01 de setembro de 2008. Primeiro dia de venda de ingressos para o show da Madonna no Rio, 15 anos depois do primeiro. Eu, que havia dito para quem quisesse ouvir que não perderia o show por nada e que queria ir de VIP, acordei cedo e às 8h da manhã, junto com a esposa, cheguei à tal fila em frente ao maracãnazinho.
Eu estava preparada para encontrar uma fila bem maior do que a que encontrei. Deveria haver umas quinhentas pessoas na minha frente. Não era, de fato, muita gente. E às onze horas da manhã começaram a vender os ingressos. A fila parecia que iria andar rápido. Em pouco tempo avançamos os primeiros 50 metros. Parecia que em umas duas horas tudo estaria resolvido.
Ledo engano. O que tinha acontecido era a ilusão da fila que levanta. Que, quando um anda um passo, o de trás avança dois, o terceiro, quatro, e a gente, cinqüenta metros. Segunda feira seria um pequeno pesadelo adolescente. Um pesadelo que eu não vivi adolescente e que me sentia um pouco velha demais para passar por aquilo tudo. Horas de espera, fãs enlouquecidos, pessoas de todos os gêneros, idades, maquiagens, e uma equipe da tal tickets4fun desrespeitosa e ineficiente. Além da ausência de poder público, insegurança e gente mal educada.
Saí de lá onze horas depois, de posse de 5 ingressos para mim e minhas amigas, exausta e puta da vida. Ou furiosa, como disse de mim uma jornalista. Eis os motivos da revolta nada adolescente, da qual fui tomada:
Primeira (má) notícia do dia
O mistério dos ingressos VIPs
Mal abriu a bilheteria, seis pessoas teriam sido atendidas e... foram esgotados todos os três mil ingressos VIPs. Várias pessoas que viraram a noite lá, que estavam no começo da fila certas de que conseguiriam comprar os melhores lugares ficaram a ver navios. E se revoltaram, fizeram confusão, com razão. Quiseram quebrar tudo. Mas de nada adiantou. Minutos depois alguns cambistas ofereciam os mesmos ingressos a quem quisesse comprar por 2 mil reais. Os mesmíssimos que valiam 600, na boca do caixa. Mais revolta. Em seguida um homem conseguiu comprar o ingresso VIP na bilheteria, pagando inteira. Logo depois de uma menina que queria pagar meia não conseguir. Mais revolta. Ela chama a polícia. Um funcionário pega o telefone dela e promete um ingresso VIP. O mistério só cresce.
Eu havia passado a manhã lendo o jornal de domingo, no qual havia uma reportagem grande sobre a farra dos ingressos no jogo da final da Libertadores, achei premonitório.
Segunda (má) notícia
O sistema de venda de ingressos
Passavam-se os minutos, as horas e a fila mal se mexia. Quando dávamos dois passos o fato era comemorado com gritos e aplausos. Eu, Mari e nossos amigos de fila nos revezávamos percorrendo a fila até o começo para ver qual era a situação. E então soube-se que a fila não andava porque o sistema de venda de ingressos caís continuamente. Por quê? Porque o sistema era o mesmo para o Maracanazinho, para o outro ponto de vendas e para a Internet, o que congestionava tudo. A Internet caía e a gente caía também. A notícia veio acmpanhada de outra: a de que os mesmos ingressos eram oferecidos em todos os três meios de vendas. Ou seja: Se demorávamos uma hora para 20 pessoas comprarem ingressos na fila, nessa mesma uma hora milhares de pessoas poderiam comprar ingressos via Internet. O que significava que nós poderíamos passar o dia inteiro ali e sair de mão abanando. Para nós não havia qualquer reserva de ingressos.
A empresa respondia a isso dizendo que queria facilitar ao máximo a comprar dos ingressos, economizar o tempo dos fãs e essas babaquices todas. Mas o que é realmente estranho é que, pela Internet há uma tal de “taxa de conveniência” de 20% do valor do ingresso. Mais 20 reais para entrega em casa. Ou seja, um ingresso que custa 600 reais, sairia, pela Internet, 740 reais. Ou seja, para quê dar qualquer prioridade a quem estava na fila, se o lucro era muito maior pela Internet?
Mas a empresa não era apenas malandra. Era também ruim e despreparada, pois o sistema on line travava o tempo todo e muita gente passou a madrugada inteira sem conseguir conectar ou sem conseguir efetuar a compra. Ou mesmo sem conseguir confirmar que havia efetuado a compra mesmo depois de ter dado os dados do cartão de crédito.
As notícias percorriam a fila. A última, ao meio dia era a de que apenas 3 pessoas haviam comprado ingressos VIPs na Internet. O resto havia evaporado. Invencionice ou verdade, aquilo pareceu a todos muito possível e foi repetido por milhares de bocas, como em um telefone sem fio.
Terceira (má) notícia
Ou a santa esperteza de alguns
Ou somos todos uns filhos da puta
Daqui a pouco um amigo de fila vem revoltado e conta: há uma fila para terceira idade lá. Está cheia de velhinhos de aluguel, as pessoas oferecem 50 reais e o velhinho entra na fila. Tem também um monte de mulher gorda se fazendo de grávida. E gente arrumando umas crianças e colocando no colo.
Muita gente também ficava na grade de proteção da bilheteria oferecendo 50 reais para que o “da vez” comprasse seu ingresso.
Mariana vai lá ver. Reclama com a organização. Eles informam que nada podem fazer. E pronto.
Nada podiam fazer também para organizar a fila. Havia furões se enfiando na frente de todo mundo. As pessoas começaram a dar as mãos para fazer um cordão de isolamento. Nenhum funcionário ajudava. Os furões começaram a ser linchados. A desorganização era tanta que daqui a pouco ninguém mais sabia quem era quem. A fila de velhinhos tinha gente de qualquer idade. E não havia a quem pedir socorro.
Toda hora vinha uma notícia “lá da frente” de que estava instaurada uma confusão e que por isso a fila não andava.
Quarta (má) notícia
Os (três) funcionários despreparados
Ou Brincando no arraiá
Uma única funcionária da empresa percorria a fila dando notícias. Acabaram os ingressos da cadeira central. Depois voltava. Foi um erro do sistema, só acabaram os VIPs. Depois de novo. Agora acabaram mesmo as cadeiras centrais. Voltava mais uma vez: não, desculpem, ainda tem, foi um erro do sistema.
(olha chuva! Uhhhh! É mentira! Ahhhhh!)
Não havia a quem reclamar de nada, então reclamei com aquela moça mesmo: vocês estão numa desorganização só. Cadê a ordem da fila? Cadê outros funcionários? A fila não anda! Quem está controlando os cambistas? Ela me respondia. A fila anda sim. É lento, mas anda e nós estamos fazendo o melhor que podemos. E pronto.
O melhor que eles podiam era colocar aquela funcionária percorrendo a fila e dando notícias podiam ou não ser verdadeiras.
Na fila dos velhinhos havia um outro funcionário. A gente reclamava de que os 40 velhinhos tinham 3 caixas enquanto mais de duas mil pessoas só tinham sete. E ele disse: Vocês deveriam aprender a reclamar antes de reclamar. Virou as costas e foi falar com outras pessoas. Eu comecei a gritar mais e mais. Os amigos de fila ficaram preocupados comigo: você está muito nervosa, não vai adiantar nada. Eu respondia: contanto que ele fique nervoso também está tudo certo. Eles, que também não tinham amis o que fazer, se juntaram em mim em coro: Mal educado, mal preparado, filho da puta. E assim seguíamos.
Daqui a pouco chega uma mulher e grita: reclamei da fila dos velhinhos que anda rápido enquanto a nossa está parada. Sabe o que o funcionário respondeu? que eu deveria alugar um velhinho que nem todo mundo e furar a fila. Estou indo para a polícia agora mesmo.
Quinta (má) notícia
Ou polícia para quem precisa!
Em um determinado momento, depois de ver cambistas agindo livremente, depois de não ver policiamento nenhum para dar apoio a um monte de gente obviamente cheia de dinheiro, depois de uma fila mal organizada, eu fui lá na frente tirar satisfações e chamar a polícia. Me veio um policial a paisana, que não se identificou. Foi comigo até mais ou menos onde eu estava na fila. Pediu para que eu identificasse os cambistas. Eu mostrei alguns a ele e ele disse: Ok. Agora você tem que ficar esperando algum comprar, me chamar e ir para a delegacia comigo, ele e o cara que comprou. Eu perguntei se eu teria que ficar cara-a-cara com o bandido ele disse que eu não estava nos EUA. E que eu teria que testemunhar o crime, senão não havia crime. Eu falei: mas a polícia está ali (havia um carro, com dois policiais dentro parados há horas, sem se mexer), por que ela, que está vendo tudo, não faz alguma coisa? Porque não adianta nada. Como assim? É, no final, não adianta nada mesmo. Para que prender? Indignada, ainda pedi por favor para colocar algum policial fazendo a ronda da fila, pois éramos alvo fácil para bandidos. O policia respondeu que isso também não ia adiantar nada, que eles não iam poder ajudar a gente. Virou as costas e foi embora. Me deixando de cara com os cambistas que me encaravam.
Nisso uma repórter e abordou e escreveu uma matéria me classificando de jovem furiosa.
Pois é. Jovem furiosa. Logo eu...
Ps: Outro indignado:
http://www.madonnanow.com.br/mznews/noticias.php?mzn_pg=2