segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Cabelo demais

Temporariamente no Rio de Janeiro, estou habitando casas de amigos. No momento vivo com 21, amigo das antigas e com quem já morei no passado.

A nossa convivência tem sido ótima, a casa é incrível, o quarto, confortável, e a cozinha perfeita para quem gosta de cozinhar. O único problema do apartamento é FDI, a Faxineira Dos Infernos.

FDI é ótima faxineira. Perfeccionista, eficiente e pontual. Por isso, duas vezes por mês, limpa a casa de 21 e é também faxineira de seus pais.
Porém FDI é crente. Enquanto eu, meus amigos, além de dormir com uma menina e acordar tarde, eu, eu tenho muito cabelo. Grandes desvios descritos na Bíblia de FDI.

Antes de mim e D.Mari nos mudarmos pro apartamento, 21 nos alertou sobre a faxineira. Disse para termos paciência. No dia anterior da primeira visita dela à casa, eu havia deixado louça na pia e um recado ao amigo avisando que só não lavara porque sabia da faxina no dia seguinte.

21 queimou o recado.

Depois de uma madrugada de trabalho, acordamos às 14 horas. FDI nos avalia dos pés a cabeça. D.Mari dá bom dia.
FDI responde: Boa tarde.
Dá as costas e vai embora.

Depois de outra virada de noite acordo com FDI falando no telefone aos berros, no meio do corredor. Peço por favor para falar baixo. Mas já eram 10h da manhã (imaginem vocês) de sábado e não sei se ela achou que eu tinha direito a silêncio.
Baixou o tom de voz. Mas não limpou meu quarto, quando saí.

Este sábado foi novamente dia de faxina. Desta vez acordamos cedo. Mari levantou antes e, às 10h da manhã, já estava pronta para sair. FDI perguntou: Você está indo trabalhar? Mari respondeu que sim. FDI, em um tom completamente diferente, disse, pela primeira vez: "Então tenha um ótimo dia." acrescentando: "E vá com Deus."

Eu, como a grande vagabunda, lésbica e aproveitadora de amigos que sou, levantei meio dia. 21 também havia acabado de acordar (FDI disse à D.Mari - às 9:30h – que era bom que ele levantasse logo porque ela não ia ficar lá esperando pra limpar o quartinho dele). Fiz um café pra nós e batemos um papo rápido sobre a minha saída do apartamento para a casa da próxima amiga. FDI acompanhou a conversa com um sorriso enorme no rosto.

FDI esperou 21 se ausentar por um minuto para ter uma conversa séria comigo:

- Você tem muito cabelo, não é?

- Tenho sim.

- É realmente MUITO cabelo.

- Eu sei.

- E ele cai muito, não é?

- Cai sim.

- Pela casa inteira.

- Pois é. Eu sempre varro, mas sempre tem.

- Sempre. Na casa inteira. INTEIRINHA.

- Eu sei. A gente perde muito cabelo.

- Não. Você perde. A outra tem cabelo curto (a outra acorda cedo para trabalhar LOGO não perde cabelo).

- É verdade. Me ter em uma casa é a mesma coisa que ter um cachorro peludo (risos interiores).

- É verdade. É a MESMA coisa.

(…)

Silêncio.
O que responder a isso?
Decidi terminar o diálogo.


- A senhora me desculpa?

- Tá bom.