segunda-feira, 28 de julho de 2008

Balzaquianas

Caí em mim finalmente. Sim, eu vou fazer os temidos 30 anos e não, não é o fim do mundo. Pelo contrário. Caí em mim: estou louca para que chegue logo o dia. Eu vou fazer trinta anos!

Tinta anos. Eu tenho esperado por esse dia há quantos anos? Não sei. Imaginei tantas coisas, tantas coisas para mim. Tive muitos sonhos. Sempre imaginei que, quando fizesse 30, eu seria assim e assado. Na minha adolescência, eu me ia casada, com filhos pequenos, batalhando muito e com algum dinheiro no bolso. Algum bom dinheiro no bolso, quero dizer. Adultesci imaginando que não era tão difícil assim conseguir ter uma certa grana sobrando. Minha inteligência e minha educação seriam suficientes. E eu queria que isso viesse acompanhado do sonho americano. Casinha com cerca branca, filhos, cachorro.

Pois é, eu admito. Fui mesmo uma adolescente esquerdista, muitas vezes radicalmente esquerdista, mas que o que queria mesmo era ficar adulta vivendo o sonho americano. Por quê? Ainda não descobri.

Depois o tempo passou. Desisti dessa coisa de ter filhos antes dos trinta (espero tê-los antes dos quarenta). Desisti de ficar rica. Mas ainda sonhava com ter alguma grana sobrando e uma carreira de sucesso. Namorava essas figuras de revista Você.sa que, com trinta anos, já têm tudo, já conquistaram tudo...

Mas, estranhamente, quanto mais eu me aproximava dos trinta, mais tudo isso parecia distante. Minha incrível faculdade, a UFRJ, não parecia mais tão incrível assim. Greves, atrasos, maus professores, nenhuma avaliação, currículo confuso e um desinteresse crescente meu por tudo aquilo. Quis abandonar e quase o fiz. Mas eu pensava: não. Quero ter diploma para, caso for presa, ir para cela especial.

Hahaha. Pensava isso mesmo. Pensava e dizia, para quem quisesse ouvir. Com todas as letras. Bom, a gente nunca sabe do futuro, né? E nesse país de merda, onde quem tem mais tem mais e vive melhor é mais bem tratado, eu queria fazer parte do grupo de exclusão. E não me arrependo. Tenho o tal diploma. Me serviu para conseguir um emprego naquela empresa, a tal da Petrobrás.

Eu e Petrobrás, todo um capítulo à parte. Não vou contar muito porque não posso. Fui proibida na justiça de falar sobre o que me aconteceu na Petrobrás. Mas digo que foi feio, que foi escroto, que me fuderam e que quem me fudeu tem fama de ser uma pessoa revolucionária e defensora dos diretos dos trabalhadores. Uma dessas figuras de esquerda, ex-guerrilheira, fundadora do PT. Essas merdas. Bom, nada mais banal do que ser fudida por uma dessas figuras. Mas não posso falar nisso. Só digo que entrei na justiça e que a justiça me fudeu de novo.

Bom, falei da Petrobrás porque, quando comecei a trabalhar lá, parecia que finalmente eu ia realizar certos sonhos de infância de ser aquela mulher bem sucedida e tudo... logo deu merda e eu perdi aquele posto de mulher bem sucedida, e aquele dinheiro de mulher bem sucedida, e parei de usar aquelas roupas de mulher bem sucedida, e perdi a pose, e meu pai me olhava de novo com aquela cara de que eu era uma adolescente sem rumo e sem razão...

E nunca meu sonho de ser isso e aquilo aos trinta anos pareceu tão distante.

Depois disso, tentei não pensar mais no assunto. Tentei abstrair. Tentei fingir que a idade, os anos passando, não me incomodavam. Mas incomodavam. E, de repente, eu não sabia mais o que eu queria para quando fizesse trinta anos. Acho que, com o tempo, eu comecei a querer me sentir adulta. E apenas isso. Adulta.

Faz pouco tempo tive um desentendimento com meu pai. Mais um, depois de anos e anos de desentendimentos. Mais um. Esses desentendimentos me deixam exausta. Não que eu tenha tido muitos entendimentos com ele. Não, não tive. Bom, ele acha que teve comigo, mas é uma fantasia louca da cabeça dele. Dessas fantasias que os pais, quanto mais distantes são de seus filhos, têm em relação a eles. Tive esse desentendimento e foi a gota d’água. Fiquei um tempo sem falar com ele e quando finalmente falei, reuni toda a minha coragem e toda a minha análise e toda a sinceridade e boa vontade e escrevi um email. Não muito longo. Não muito curto. Escrevi um email direto e sincero. Disse as coisas principais e pedi que me respeitasse, me olhasse de frente, me encarasse como o ser humano adulto que sou. Meu pai respondeu evasivamente. Respondeu esquivamente. Respondeu sem nexo. Não o entendi. Não o entendo. A única coisa que eu entendi perfeitamente foi a frase: a lembrança que tenho de você é a de uma criança pendurada na estante e me olhando... e não quero trocar essa imagem por nenhuma outra.

E foi ao ler isso que eu entendi. Eu sou realmente uma pessoa adulta. Quando duvido de mim mesma, das minhas capacidades, de quem eu sou, do que eu quero e tento me moldar, eu estou dando trela ao meu pai, que me vê como uma criança. Um ser sem voltades próprias, sem ambições próprias, sem capacidade de se decisão e de se manter. E aí pensei: tenho quase trinta anos e não preciso de nada disso. Eu sou auto-suficiente. Eu sou totalmente capaz de me virar sozinha. E eu sou feliz. E sim, eu tenho minha casa, eu tenho minha esposa, um dia terei filhos e, finalmente!, eu tenho uma profissão.

Nunca estive tão bem na vida.
E vou fazer trinta anos.
Vou ser exatamente o que quero ser.
Uma pessoa criativa, viajante, com os pés no chão e a cabeça na lua.
E um saco de problemas sempre aparecendo, mas nada que eu não consiga lidar.
Eu sou meu próprio porto-seguro.
E não preciso de pai.
Nem de mãe.
É bom, não precisar deles.
E me reservar o direito de querer ou não a sua companhia.

Afinal, eu sou adulta. Vacinada. E que paga as próprias contas.
Demorou, mas aconteceu.

sábado, 19 de julho de 2008

ASSUNTO PARA PESQUISA: BÁRBARA NUNES

Coloquei meu nome no Google e isso foi o que eu encontrei:

1 – EU! Meu filme O Golpe Alien no CurtaAgora. Alias o Golpe Alien está em muitos lugares...

2 – Milhares de perfis de adolescentes e universitárias em blogs, no LinkedIn e sites correlatos. Também em sites de procura de empregos.

3 – Eu de novo, no IMDB

4 – Uma professora de negócios americana que, pelo que entendi, busca emprego

5 – Uma especialista em ciências criminais

6 – Uma terapeuta ocupacional que não sabe falar português

7 – Eu de novo. Posts de 2006 do Uns&Outros

8 – Mais e mais perfis em sites de relacionamento. Mas esses eu não tenho paciência para olhar...

9 – Eu! De novo! Quando passei para a segunda fase da FUVEST

10 – Uma outra Bárbara Nunes que também passou para a segunda fase da FUVEST

11 – Uma tal de Bárbara Nunes Gonçalves que, desde quando eu estava prestando vestibular, em idos de 1998. Ela sempre aparecia nas mesmas listas de aprovandos que eu e eu disputava internamente com ela, uma colocação imaginária. Ora, eu era a melhor Bárbara Nunes

12 – Uma antropóloga (eu acho)

13 – Eu de novo! Fotos minhas no site do meu clube excursionista

14 – A estudante de um colégio chamado Sta Bárbara e que se chama Bárbara Nunes Silva (quase eu!) (estranho não é achar alguém com esse nome, pois todas as partes dele são muito comuns. O mais estranho foi eu nunca ter achado antes. Houve um episódio anos atrás em que eu perdi o meu cartão do banco do Brasil em Brasília. Precisei fazer um saque com minha identidade, mas não me lembrava os dados da conta. A incrível descoberta foi que, ao buscar quantas Bárbara Nunes e Silva existiam no sistema deles, só apareceu eu!)

15 – Uma dançarina portuguesa

16 – Eu de novo. Meu blog Hoje Eu...

17 – Uma fotógrafa no Rio Grande do Sul, que dá cursos à comunidade

18 – A partir da página 7 todas as páginas acabam com meu blog Hoje Eu...

Bom, vamos ver se encontro alguma figura interessante ainda mais para a frente... ou se me encontro de novo, em outro lugar... Antigamente tinha uma puta, uma cientista e uma professora... OU seria uma professora de ciências puta? Vamos ver se encontro...

1 – Minha Colocação em primeiro lugar em Produção Cultural na UFF. Nunca cursei. Inda bem. Produção? To fora!

2 – Olha! Uma Bárbara Nunes auto-centrada que tem um blog e não sou eu!

3 – Eu! Nos agradecimentos do livro do Peréio, pode? Parece que está disponível para download. Olha que máximo!

4 – A Bárbara Nunes Gonçalves está em todas as listas de aprovados de todos os concursos imagináveis e a Bárbara dançarina também está em todas.

5 – Eu de novo! No site Paralelos, em matéria sobre aquele livretinho que lançamos no final da Oficina Literária da UERJ. Me lembro bem dessa matéria. Foi finalizada com uma citação à minha poesia para minha musa Clarisse, mas a pessoa cultíssima que escreveu a matéria me corrigiu! O nome da minha musa certamente era Clarice, não é verdade? E eu é que sou inculta e não sei escrever!

Ah! Chega. Cansei.
Conclusão?

1 – Há muitas Bárbaras Nunes andando por aí, e já há uma Bárbara Nunes Silva. Daqui a pouco eu serei afogada no meio de tantas homônimas.
2 – Os sites de relacionamento são uma praga e, na busca por uma pessoa, você dá de cara com um monte de perfis babacas. Que saco!
3 – Muitas dessas Bárbaras são umas adolescentes chatas. Odeio adolescentes. Desde a primeira vez que vi um!
4 – A outra coisa que enfesteia é esse monte de lista de aprovação em concurso. Que saco!
5 - Este blog no qual vos escrevo não tem absolutamente nenhuma relevância no google...

Fui até a página 25 dos resultados Google. Qualquer dia crio coragem e continuo.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

EM DEFESA DA LIBERDADE E DO PROGRESSO DO CONHECIMENTO NA INTERNET BRASILEIRA

A Internet ampliou de forma inédita a comunicação humana, permitindo um avanço planetário na maneira de produzir, distribuir e consumir conhecimento, seja ele escrito, imagético ou sonoro. Construída colaborativamente, a rede é uma das maiores expressões da diversidade cultural e da criatividade social do século XX.

Descentralizada, a Internet baseia-se na interatividade e na possibilidade de todos tornarem-se produtores e não apenas consumidores de informação, como impera ainda na era das mídias de massa. Na Internet, a liberdade de criação de conteúdos alimenta, e é alimentada, pela liberdade de criação de novos formatos midiáticos, de novos programas, de novas tecnologias, de novas redes sociais. A liberdade é a base da criação do conhecimento. E ela está na base do desenvolvimento e da sobrevivência da Internet.

A Internet é uma rede de redes, sempre em construção e coletiva. Ela é o palco de uma nova cultura humanista que coloca, pela primeira vez, a humanidade perante ela mesma ao oferecer oportunidades reais de comunicação entre os povos. E não falamos do futuro. Estamos falando do presente. Uma realidade com desigualdades regionais, mas planetária em seu crescimento.

O uso dos computadores e das redes são hoje incontornáveis, oferecendo oportunidades de trabalho, de educação e de lazer a milhares de brasileiros. Vejam o impacto das redes sociais, dos software livres, do e-mail, da Web, dos fóruns de discussão, dos telefones celulares cada vez mais integrados à Internet. O que vemos na rede é, efetivamente, troca, colaboração, sociabilidade, produção de informação, ebulição cultural. A Internet requalificou as práticas colaborativas, reunificou as artes e as ciências, superando uma divisão erguida no mundo mecânico da era industrial.

A Internet representa, ainda que sempre em potência, a mais nova expressão da liberdade humana. E nós brasileiros sabemos muito bem disso. A Internet oferece uma oportunidade ímpar a países periféricos e emergentes na nova sociedade da informação. Mesmo com todas as desigualdades sociais, nós, brasileiros, somo usuários criativos e expressivos na rede. Basta ver os números (IBOPE/NetRatikng): somos mais de 22 milhões de usuários, em crescimento a cada mês; somos os usuários que mais ficam on-line no mundo: mais de 22h em média por mês. E notem que as categorias que mais crescem são, justamente, "Educação e Carreira", ou seja, acesso à sites educacionais e profissionais. Devemos assim, estimular o uso e a democratização da Internet no Brasil.

Necessitamos fazer crescer a rede, e não travá-la. Precisamos dar acesso a todos os brasileiros e estimulá-los a produzir conhecimento, cultura, e com isso poder melhorar suas condições de existência. Um projeto de Lei do Senado brasileiro quer bloquear as práticas criativas e atacar a Internet, enrijecendo todas as convenções do direito autoral. O Substitutivo do Senador Eduardo Azeredo quer bloquear o uso de redes P2P, quer liquidar com o avanço das redes de conexão abertas (Wi-Fi) e quer exigir que todos os provedores de acesso à Internet se tornem delatores de seus usuários, colocando cada um como provável criminoso.

É o reino da suspeita, do medo e da quebra da neutralidade da rede. Caso o projeto Substitutivo do Senador Azeredo seja aprovado, milhares de internautas serão transformados, de um dia para outro, em criminosos. Dezenas de atividades criativas serão consideradas criminosas pelo artigo 285-B do projeto em questão. Esse projeto é uma séria ameaça à diversidade da rede, às possibilidades recombinantes, além de instaurar o medo e a vigilância.

Se, como diz o projeto de lei, é crime "obter ou transferir dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular, quando exigida", não podemos mais fazer nada na rede. O simples ato de acessar um site já seria um crime por "cópia sem pedir autorização" na memória "viva" (RAM) temporária do computador.

Deveríamos considerar todos os browsers ilegais por criarem caches de páginas sem pedir autorização, e sem mesmo avisar aos mais comum dos usuários que eles estão copiando. Citar um trecho de uma matéria de um jornal ou outra publicação on-line em um blog, também seria crime. O projeto, se aprovado, colocaria a prática do "blogging" na ilegalidade, bem como as máquinas de busca, já que elas copiam trechos de sites e blogs sem pedir autorização de ninguém! Se formos aplicar uma lei como essa as universidades, teríamos que considerar a ciência como uma atividade criminosa já que ela progride ao "transferir dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado", "sem pedir a autorização dos autores" (citamos, mas não pedimos autorização aos autores para citá-los).

Se levarmos o projeto de lei a sério, devemos nos perguntar como poderíamos pensar, criar e difundir conhecimento sem sermos criminosos. O conhecimento só se dá de forma coletiva e compartilhada. Todo conhecimento se produz coletivamente: estimulado pelos livros que lemos, pelas palestras que assistimos, pelas idéias que nos foram dadas por nossos professores e amigos... Como podemos criar algo que não tenha, de uma forma ou de outra, surgido ou sido transferido por algum "dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular"?

Defendemos a liberdade, a inteligência e a troca livre e responsável. Não defendemos o plágio, a cópia indevida ou o roubo de obras. Defendemos a necessidade de garantir a liberdade de troca, o crescimento da criatividade e a expansão do conhecimento no Brasil. Experiências com Software Livres e Creative Commons já demonstraram que isso é possível. Devemos estimular a colaboração e enriquecimento cultural, não o plágio, o roubo e a cópia improdutiva e estagnante. E a Internet é um importante instrumento nesse sentido.

Mas esse projeto coloca tudo no mesmo saco. Uso criativo, com respeito ao outro, passa, na Internet, a ser considerado crime. Projetos como esses prestam um desserviço à sociedade e à cultura brasileiras, travam o desenvolvimento humano e colocam o país definitivamente para debaixo do tapete da história da sociedade da informação no século XXI.

Por estas razões nós, abaixo assinados, pesquisadores e professores universitários apelamos aos congressistas brasileiros que rejeitem o projeto Substitutivo do Senador Eduardo Azeredo ao projeto de Lei da Câmara 89/2003, e Projetos de Lei do Senado n. 137/2000, e n. 76/2000, pois atenta contra a liberdade, a criatividade, a privacidade e a disseminação de conhecimento na Internet brasileira.

André Lemos, Prof. Associado da Faculdade de Comunicação da UFBA, Pesquisador 1 do CNPq.

Sérgio Amadeu da Silveira, Prof. do Mestrado da Faculdade Cásper Líbero, ativista do software livre.

João Carlos Rebello Caribé, Publicitário e Consultor de Negócios em Midias Sociais

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Para assinar a petição, clique aqui.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Genocídio de Ruanda 1994

Acabei de ler um livro chamado "Sobrevivi para contar", escrito por uma mulher sobrevivente ao genocídio, Immaculée Ilibagiza. Immaculée sobreviveu ao extermínio de mais de 800.000 pessoas, inclusive o de quase toda a sua família, durante o genocídio de Ruanda, quando o governo Hutu incitou os cidadãos a caçarem, matarem e esquartejarem todo e qualquer Tutsi que vissem pela frente. Immaculée era tutsi, portanto estava na lista para ser exterminada e foi caçada por aqueles que haviam sido seus vizinhos, amigos e professores no passado. Sobreviveu graças a ajuda de um pastor hutu, que a escondeu em um pequeno banheiro junto com mais sete mulheres.

Minhas ignorâncias

Tutsis, hutus, Ruanda...

Me lembro vagamente de estudar alguma coisa sobre esse conflito enquanto acontecia. Sabia que Ruanda ficava na África. Sabia que os tutsi e os hutu eram dois grupos étnicos que viviam em Ruanda e que guerreavam, mas acho que nunca compreendi o que estava acontecendo. Era 1994, eu estava cursando o primeiro ano do segundo grau e minha ignorância sobre qualquer coisa relativa à África era apenas pouco menor do que a que tenho agora.


Resumindo a história
Ou, o pouco, muito pouco, que sei sobre Ruanda.

Ruanda é um pequeno país no centro da África.

Bom, é meio estranho começar assim. Queria falar um pouco da história de Ruanda. Mas Ruanda só existe depois da colonização. Depois que os europeus foram lá, demarcaram terras, dividiram entre eles e decidiram, depois de algumas disputas (tipo a primeira guerra mundial), que país iria ganhar qual pedaço da àfrica. Antes disso a África era um continente vasto, cheio de florestas,

mosquitos, animais perigosos e vanibais até onde nossa vista ignorante pode alcançar.

Portanto a história de Ruanda começa no século XIX, quando ela é "dada" à Alemanha. Posteriormente o controle sobre o país foi passado para a Bélgica.

Para controlar o país, que depois ainda se dividiu em dois, Ruanda e Burundi, os belgas se aproveitaram de um antigo sistema de poder entre as duas tribos dominantes do local, os tutsi e os hutu. Os tutsi eram uma minoria, mas eram eles que reinavam e controlavam a população local, de maioria hutu. Os belgas colocaram os tutsi para trabalhar com eles e lhes deram poder e liderança. Dessa forma procuravam controlar a população local com certa facilidade. Mas a parceria não durou muito, pois logo os tutsi se revoltaram contra os belgas e quiseram a independência. Acreditando que os hutu seriam mais fáceis de controlar, os belgas inverteram o sistema de poderes. Os hutu, que tinham grandes ressentimento contra os tutsi, os discriminaram e caçaram durante décadas. Muitos tutsi foram exilados nos paises visinhos.

Em 1990, uma força guerrilheira formada pelos tutsi exilados, a FPR, invadiu Ruanda tentando derrubar o governo. O governo hutu começou a fazer propaganda via rádio contra os tutsi, incitando a população ao ódio. Entre derrotas e vitórias, o governo e a força revolucionária tentavam chegar a algum acordo. Mas em 1994 o presidente hutu foi morto quando seu avião foi derrubado, logo que voltava de uma negociação pela paz. Com isso o gorverno passou a incitar a perseguição, a matança e a violência generalizada contra os tutsi, o que se extendeu também contra os hutu moderados, acabando por exterminar 800 mil pessoas.


Um trabalho a fazer

O governo incitava a população a parar tudo para se dedicar exclusivamente à caça de tutsi. Fecharam escolas, fábricas e o comércio. Nada mais funcionava. Ninguém deveria trabalhar até que o trabalho de exterminar as "baratas" tutsi fosse terminado. O governo utilizou-se de dinheiro cedido pela ONU para financiar a compra de milhões de facões, fuzis e revólveres que distribuiu pela população. Todos os meios de comunicação se dedicaram exclusivamente a pregar a limpeza étnica.

E o mundo assistiu calado. A ONU se retirou, os brancos foram evacuados.

E, em seguida, já não existiam ruas em Ruanda, existiam apenas pilhas de corpos, ossos, roupas, casas destruídas. Um cenário demoníaco.


Voltando ao livro

Pois é, Immaculèe sobreviveu a isso tudo escondida em um banheiro de 1m x 1,30m.

No livro ela conta a história do massacre sob um ponto de vista muito pessoal. Conta como a fé em Deus a salvou. As horas no banheiro apertado, onde mal podia se mexer e não podia fazer qualquer barulho para não atrair a atenção dos assassinos, e como gastou essas horas em transes em que pedia a Deus para perdoá-los, para ser capaz de amá-los pois eram filhos do mesmo Deus. Como sentia que o diabo tentava fazê-la perder as esperanças, como dizia a ela que ela estava mentindo a deus, pois em realidade odiava e queria a morte de seus perseguidores. E como ela conseguiu superar todas as suas angústias, medos e rancores pelo amor a Deus. E conseguiu perdoar. Mais tarde, quando a guerra já havia acabado, ela foi visitar o assassino de seus pais na cadeia. Ele havia sido seu vizinho. Aproveitara a situação para roubar os pertences da família. O carcereiro do assassino colocou-o na mesma sala com Immaculèe e disse a ela que ela poderia fazer com ele o que quisesse. Ela o perdoou.

Não, eu não acredito em Deus. Mas achei linda a fé dessa mulher. A capacidade de perdoar a monstruosidade alheia.


Mas, falando sobre isso...

Minha educação formal me ensinou que a África é um subcontinente, que só existe por causa da Europa. Antes dos europeus chegarem lá, não existia nada que merecesse qualquer atenção em aulas de história. E mesmo depois...

O que me foi ensinado é que lá os europeus conseguiam estabelecer-se e caçavam escravos pelas matas. Traziam esses escravos para as Américas e... bom, depois os europeus fizeram a primeira guerra mundial para disputar os territórios africanos. Uma vez estabalecido o que era de quem, ficou tudo bem, o mundo seguiu em paz...

Agora, sobre a história desses povos que habitavam e habitam a àfrica, nada sei. Como ficaram esses países, um pouco de história... Ah! nada disso é importante. A gente estuda no máximo um pouquinho sobre a África do Sul porque... Por que mesmo? Deve ser essa culpa judaico-cristã... temos que falar do apartheid, não é mesmo? E só.

Como pode um pais em que metade da população é formada por pessoas negras ou mestiças, simplesmente ignorar todo um continente? Como podemos não saber NADA sobre nossas raízes?
O apartheid existe de muitas formas...




E falando sobre o Apartheid...

Ontem deu no jornal que os EUA resolveram finalmente tirar Nelson Mandela da lista dos terroristas internacionais mais procurados. Ele estava lá por ter lutado contra o Apartheid.

Os EUA realmente sempre foram bons em apontar o dedo para bandidos internacionais...

E o melhor, os jornalistas brasileiros se limitam a comemorar o fato. Ninguém questiona nada.