terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Festividades insuportáveis


Fins de ano, carnavais e momentos de êxtase coletivo me deixam profundamente irritada e temerosa. É mais ou menos a mesma sensação que me dá quando uma turba de adolescentes entra no ônibus. Rindo, gritando, xingando, tirando onda.
Minha vontade é de sair correndo. Não, na verdade a minha vontade é de esganá-los. Mas não posso. Então fico irritada esperando que o tempo passe e torcendo para que eles se mantenham a uma distância segura.

Nessas festas apoteóticas de fim de ano tenho a mesmíssima sensação. Me sinto em plena Babilônia, com todos os outros seres humanos fazendo de tudo para se divertir escandalosamente. Há uma obrigação no ar: há de ser feliz. Esse tem de ser o reveillon mais incrível da história de toda a minha vida. Há de ser marcante. Há de me levar à loucura. E lá vão os seres humanos mostrar-se hiper-felizes bebendo todas, gritando, pulando, beijando, batendo, vivendo e morrendo, como se não houvesse o amanhã.

Mas amanhã há. Pelo menos para os felizardos que sobrevivem à experiência. Eu fico acuada, em um canto, tentando fingir que nada de anormal acontece. Pelo menos o reveilon dura apenas um dia. Mas sempre é seguido do carnaval que, no Rio de Janeiro, começa um mês antes, pelo menos.

Lá estou eu, voltando do trabalho, cansada, dez horas da noite, num ônibus que demorou quase uma hora para passar e, de repente, já quase em casa, eu me deparo com uma banda de carnaval fechando a pista. Eles bebem, eles gritam, eles querem que eu, sentada toda bonitinha dentro do ônibus, entre na farra. Eu não quero. Me chamam. Batem na janela. Eu digo que não e depois começo a mudar de lugar. Eles balançam o ônibus. Uns tentam entrar pelas janelas. Eu e a trocadora fechamos todas e o motorista começa a ameaçar avançar naquela gente... ah! cenas memoráveis dos carnavais...

Morar em Laranjeiras, onde devem passar, esse ano, uns 10 a 15 blocos, não ajuda em nada.
E esse ano nem dinheiro há para fugir: estarei dura, guardando cada trocado para minha grande mudança para o Canadá.

Pelo menos pude fugir este reveillon para um lugar seguro, frio, alto, sem luz e sem quase nenhuma gente. Lugar difícil de chegar e que, por isso mesmo, é um dos melhores lugares no mundo.


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Lua Cheia

Pra quem pôde olhar pra cima nas primeiras noites do ano, viu a assombrosa lua cheia que iluminou o céu. Lá do meu querido retiro, onde não há luz elétrica, a lua funcionava como um gigantesco holofote.

Sábado à noite, alguns seres humanos de idades variadas, resolveram ir tomar uma cachaça no abrigo onde eu estava hospedada. Fomos todos para fora, ver a lua nascer atrás de um morro. Estamos quase que em um cinema comentou alguém. Só que sem propagandas antes do filme. Ríamos e ficamos esperando. De repente, a cena impressionante, o morro pegava fogo com a luz avermelhada da Lua. Umas 15 cabecas assistiam em silêncio. Foi muito rápido. De repente, poft, a lua amarela que só ela surgiu enorme no céu. Foi muito rápido. Alguém tinha um relógio e comentou: nasceu em 3 minutos. Nossa! como foi rápido. Mas rápido do que... Do que fazer um miojo! brincou uma menininha. Rimos. Ali estava o merchandising que faltava.

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Passamos bastante tempo ali, as tais 15 pessoas, olhando a Lua, procurando estralas cadentes e apostando em corridas entre estrlas. Não, não era bem um momento hippie, era só que o espetáculo era realmente impressionante para ser ignorado. Não havia outro assunto possível a não ser a lua. E eu estava felicíssima com isso.

De repente, um espírito de porco cata o celular, se afasta um pouco e liga para um amigo. Fiquei indignada com aquilo, uma invasão total. Foi mesmo como se alguém atendesse o celular no cinema. Absurdo.

Então o cara inicia a conversa com o amigo: OI fulano, tudo bem? Onde você está? Você tá vendo a Lua? como é que está aí? Cara, aqui ela está assim e assado....
E ficou uns bons minutos conversando sobre a lua antes de desligar.

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