Shackleton, um marinheiro e explorador inglês, também tinha o sonho de conquistar o Pólo Sul. Nos primeiros anos de 1900, já havia estado pelo menos duas vezes na Antártica, realizando, ele mesmo uma tentativa, mas foi obrigado a voltar por diversos problemas no percurso. Quando soube que a conquista do ponto mais ao sul do mundo já havia sido realizada, Shackleton decide empreender uma aventura ainda maior: cruzar a Antártica de ponta a ponta, por terra, passando pelo Pólo Sul.
Era uma questão de recuperar a honra da Inglaterra e, ao mesmo tempo, uma chace pessoal de fazer fama e fortuna.
Ele demorou cerca de dois anos para conseguir os recursos para empreender a jornada. Por fim os consegue vendendo os direitos sobre os filmes, fotos, livros e palestras que pretende realizar sobre a aventura. Compra dois navios: Um para levá-lo ao ponto de desembarque, o Endurance, e outro para buscá-lo ao final da jornada. Milhares de pessoas se inscrevem querendo participar da viagem, mas apenas 26 são selecionadas para acompanharem Shackleton a bordo do Endurance. Entre esses homens estão marinheiros, foguistas, pesquisadores, médicos, navegadores, um fotógrafo, um cozinheiro e um desenhista. Em uma breve parada na Argentina se infiltra no navio um jovem irlandês, descoberto quando já estavam em alto mar, a caminho da ilha Geórgia do Sul - última parada antes da grande caminhada. Além dos homens, o navio carrega ainda cães, provisões, armas, livros, diários... São 28 os homens que, no verão polar de 1914, chegam na estação baleeira da ilha Geórgia do Sul.
A partida para o continente é adiada por mais de um mês devido ao mau tempo. Logo que o Endurance se lança ao Mar de Wendell, um dos mais traiçoeiros da Terra, começa a encontrar grandes icebergs e muito gelo até que, em meados de janeiro - pleno verão antártico, o navio fica preso no gelo. A partir desse momento a tripulação começa a viver uma das maiores e mais incríveis aventuras que o homem já experimentou.
Sinceramente, ir à Lua não foi nada perto do que eles foram capazes de realizar.
Resumindo muito resumidamente, o navio fica preso por todo inverno e os homens sobrevivem, com certo conforto dentro do navio, se alimentando das provisões que tinham levado. Mas em meados de outubro o gelo começa a se derreter e a se mover e acaba pressionando e quebrando o barco. Os homens são evacuados depois de lutarem dias seguidos contra o gelo e a água. Desembarcam e, algum tempo depois, o navio é tragado pelo mar. Shackleton então tenta empreender uma viagem, a pé, até a ilha Paulet, distante algumas centenas de quilômetros, onde sabia haver um estoque de comida e onde eles poderiam esperar por um resgate. Mas depois de três dias extenuantes eles haviam avançado pouco mais de três quilômetros e ficou óbvio que a viagem não seria possível. Acamparam, então, em uma banquisa de gelo.
Apelidaram a banquisa de Acampamento Oceânico. Como a banquisa se mantinha em movimento, tinham a esperança de que, até o final do verão, ela os levasse para próximo da Ilha Paulet. E realmente, depois de alguns meses estavam muito mais próximos, mas então o vento e as correntes mudaram e eles acabaram se afastando cada vez mais do objetivo. Shackleton decidiu, então, avançar por terra, o que provou ser uma péssima ideia pois, depois de três dias de viagem, eles ficaram presos em uma banquisa muito menor, impossibilitados de seguir em frente ou de voltar por conta do gelo quebradiço. Chamaram o novo acampamento de Acampamento Paciência e ali passaram muitos meses se alimentando de focas e pinguins e racionando alimentos que haviam trazido do navio. Com o tempo e a fome se agravando, sacrificaram os cachorros e os comeram. Um dia a banquisa começou a se partir, e, depois de ficarem espremidos em pedaços cada vez menores de gelo, lançaram-se ao mar nos três pequenos botes salva vidas que haviam carregado consigo. Com esses botes enfrentaram icebergs e vagas de até dez metros em um verdadeiro labirinto de gelo.
Os ventos, as ondas e os icebergs os mantinham constantemente gelados e molhados. Os barcos eram pequenos demais para que eles pudessem se deitar, então o máximo que faziam era ficarem sentados juntos, tentando se manterem aquecidos. Os barcos ficaram à deriva e, cada vez que traçavam uma rota para alcançar uma ilha, eram jogados pela correnteza e pelos ventos para um lado completamente diferente. Até que, depois de mais de uma semana, chegaram à ilha Elefante, uma ilha completamente desabitada e onde ninguém, ainda, havia colocado os pés. Foi a primeira terra firme em que pisaram depois de quase 500 dias, mas não adiantava muito pois o inverno estava chegando e ninguém iria ali para resgatá-los. Além disso, com a chegada do frio os animais dos quais eles podiam se alimentar iriam migrar e a fome era quase uma certeza. Para completar, o único lugar onde podiam ficar na ilha era uma pequena praia, cercada de altas montanhas e geleiras intransponíveis.
Shackleton decidiu pegar o melhor dos barcos, o Caird, que tinha pouco menos de 7 metros de ponta a ponta, e com mais 5 homens e lançou ao mais perigoso mar do mundo, atravessando 1,3 quilômetros, para chegar na Ilha Geórgia do Sul - um pequeno ponto no mapa cercado de águas geladas, onde poderiam ser resgatados. Os homens escolhidos para fazer a viagem não eram apenas os melhores ou mais necessários, mas também os que teriam maior probabilidade de causar problemas se ficassem para trás com os outros. A viagem tinha uma probabilidade mínima de sucesso, se é que tinha alguma. O barquinho pequeno, desconfortável e lotado de pedras (que faziam peso para que o barco não virasse) não era nada perto dos vagalhões de 20 metros que eles encontravam, um após o outro, incessantemente. O vento vinha de todas as direções e o barco precisava ser constantemente desafogado de água. Era praticamente impossível comer por causa das náuseas. Estavam todos completamente molhados pelas ondas e pelas tempestades que não davam trégua. Fazia em torno de -10oC.
Em uma das noites, Shackleton estava no leme quando olhou para o céu e viu uma abertura clara em meio às nuvens. Chamou os companheiros para dividir a boa notícia quando, de repente, descobriram que o que haviam visto não era uma abertura nas nuvens e sim espuma que refletia a luz do céu de cima de uma onda gigante que se aproximava. Quase foi o fim deles, mas, por milagre, sobreviveram também à onda. Toda vez que as coisas pareciam que iriam melhorar, pioravam. A água doce que levavam ficou insalubre, pois foi contaminada pela água do mar e por pêlos de rena que se desprendiam de seus sacos de dormir apodrecidos. Suas línguas incharam por conta do sal impedindo-os de comer. Quando finalmente avistaram terra, depois de duas semanas no mar, se depararam com enormes penhascos onde ondas de até dez metros arrebentavam. Da felicidade passaram ao desespero e ficaram dois dias trabalhando no limite de suas forças para escapar da ilha e se manter em alto mar - na tempestade. Finalmente conseguiram encontrar um trecho estreito de praia onde aportaram.
Chegando lá se descobriram em uma praia desabitada, do lado oposto da ilha onde estava a estação baleeira. Seriam 240 km para se percorrer com o pequeno Caird, muito mais do que ele poderia aguentar- a essa altura já estava muito debilitado e fazia água em poucos minutos. Shackleton decide que a travessia deveria ser feita por terra, em linha reta, cobrindo uma distância de 35 km.
No entanto a ilha ainda não havia sido ainda explorada por dentro e não havia mapas das montanhas que deveriam atravessar - apenas do litoral. Shackleton escolheu os dois homens mais fortes e, apenas dois dias depois de aportar na ilha, munidos apenas com as botas esfoladas com solas recheadas de parafusos (colocados para aderir melhor ao gelo) e um martelo de carpinteiro, sem levar nenhum peso extra, nem mesmo os sacos de dormir, começaram a caminhada por entre fendas, geleiras e montanhas que chegavam a ter 3 mil metros de altura. Caminharam por 36 horas praticamente sem parar para descansar. Durante a noite quase caíram no sono fatal do frio, mas Shackleton conseguiu evitar o desastre, obrigando-os a permanecerem sempre caminhando. Se eles morressem, os todos os 28 tripulantes do Endurance morreriam.
Os ventos, as ondas e os icebergs os mantinham constantemente gelados e molhados. Os barcos eram pequenos demais para que eles pudessem se deitar, então o máximo que faziam era ficarem sentados juntos, tentando se manterem aquecidos. Os barcos ficaram à deriva e, cada vez que traçavam uma rota para alcançar uma ilha, eram jogados pela correnteza e pelos ventos para um lado completamente diferente. Até que, depois de mais de uma semana, chegaram à ilha Elefante, uma ilha completamente desabitada e onde ninguém, ainda, havia colocado os pés. Foi a primeira terra firme em que pisaram depois de quase 500 dias, mas não adiantava muito pois o inverno estava chegando e ninguém iria ali para resgatá-los. Além disso, com a chegada do frio os animais dos quais eles podiam se alimentar iriam migrar e a fome era quase uma certeza. Para completar, o único lugar onde podiam ficar na ilha era uma pequena praia, cercada de altas montanhas e geleiras intransponíveis.
Shackleton decidiu pegar o melhor dos barcos, o Caird, que tinha pouco menos de 7 metros de ponta a ponta, e com mais 5 homens e lançou ao mais perigoso mar do mundo, atravessando 1,3 quilômetros, para chegar na Ilha Geórgia do Sul - um pequeno ponto no mapa cercado de águas geladas, onde poderiam ser resgatados. Os homens escolhidos para fazer a viagem não eram apenas os melhores ou mais necessários, mas também os que teriam maior probabilidade de causar problemas se ficassem para trás com os outros. A viagem tinha uma probabilidade mínima de sucesso, se é que tinha alguma. O barquinho pequeno, desconfortável e lotado de pedras (que faziam peso para que o barco não virasse) não era nada perto dos vagalhões de 20 metros que eles encontravam, um após o outro, incessantemente. O vento vinha de todas as direções e o barco precisava ser constantemente desafogado de água. Era praticamente impossível comer por causa das náuseas. Estavam todos completamente molhados pelas ondas e pelas tempestades que não davam trégua. Fazia em torno de -10oC.
Em uma das noites, Shackleton estava no leme quando olhou para o céu e viu uma abertura clara em meio às nuvens. Chamou os companheiros para dividir a boa notícia quando, de repente, descobriram que o que haviam visto não era uma abertura nas nuvens e sim espuma que refletia a luz do céu de cima de uma onda gigante que se aproximava. Quase foi o fim deles, mas, por milagre, sobreviveram também à onda. Toda vez que as coisas pareciam que iriam melhorar, pioravam. A água doce que levavam ficou insalubre, pois foi contaminada pela água do mar e por pêlos de rena que se desprendiam de seus sacos de dormir apodrecidos. Suas línguas incharam por conta do sal impedindo-os de comer. Quando finalmente avistaram terra, depois de duas semanas no mar, se depararam com enormes penhascos onde ondas de até dez metros arrebentavam. Da felicidade passaram ao desespero e ficaram dois dias trabalhando no limite de suas forças para escapar da ilha e se manter em alto mar - na tempestade. Finalmente conseguiram encontrar um trecho estreito de praia onde aportaram.
Chegando lá se descobriram em uma praia desabitada, do lado oposto da ilha onde estava a estação baleeira. Seriam 240 km para se percorrer com o pequeno Caird, muito mais do que ele poderia aguentar- a essa altura já estava muito debilitado e fazia água em poucos minutos. Shackleton decide que a travessia deveria ser feita por terra, em linha reta, cobrindo uma distância de 35 km.
No entanto a ilha ainda não havia sido ainda explorada por dentro e não havia mapas das montanhas que deveriam atravessar - apenas do litoral. Shackleton escolheu os dois homens mais fortes e, apenas dois dias depois de aportar na ilha, munidos apenas com as botas esfoladas com solas recheadas de parafusos (colocados para aderir melhor ao gelo) e um martelo de carpinteiro, sem levar nenhum peso extra, nem mesmo os sacos de dormir, começaram a caminhada por entre fendas, geleiras e montanhas que chegavam a ter 3 mil metros de altura. Caminharam por 36 horas praticamente sem parar para descansar. Durante a noite quase caíram no sono fatal do frio, mas Shackleton conseguiu evitar o desastre, obrigando-os a permanecerem sempre caminhando. Se eles morressem, os todos os 28 tripulantes do Endurance morreriam.
Quando finalmente chegaram à Estação Baleeira, barbados, negros de fuligem e gordura de foca, com os cabelos longos e roupas esfarrapadas, ninguém conseguiu acreditar que aquilo pudesse ser verdade - que Shackleton estivesse vivo juntamente com sua tripulação. Haviam sido dados como mortos há mais de um ano. Imediatamente os marinheiros puseram-se em barcos para buscar os três que se encontravam do outro lado da ilha. Naquela noite houve uma grande celebração, onde todos os capitães e marinheiros da estação fizeram questão de apertar as mãos daqueles homens, já legendários.
Desde que o Caird - o pequeno bote de salvamento - havia partido da Ilha Elefante, haviam se passado quase cinco meses. Era difícil para os 22 homens que permaneceram na ilha acreditar que ainda seriam socorridos. Mas Shackleton estava esse tempo todo tentando chegar a eles, impedido porém pelas péssimas condições do inverno polar. O resgate aconteceu, finalmente, em 30 de agosto de 1916.
O 28 tripulantes sobreviveram e o que sofreu com os maiores problemas físicos, o irlandês que embarcou de gaiato, perdeu apenas parte de um pé que se congelou. Uma história para ser contada. Pelo menos eu assim fiquei compelida a fazer, depois de ler um livro a respeito da aventura. Recomendo. É de parar o coração a cada página. É também absurdamente inspirador.
Um comentário:
Estou lendo o "Endurance" e o livro é sensacional!!!
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