quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Questionamentos balzaquianos

Quando eu era adolescente escrevi dois textos que chocaram meus amigos. Um deles era sobre o amor e outro sobre a amizade. Eu deveria ter uns 16 anos na época e vislumbrava um futuro especialmente terrível para as amizades. As via como algo atrelado a um momento especial no tempo e no espaço que, com a distância, ia perdendo o sentido e se transformando em lembrança. As amizades como fotos de um álbum que amarelavam-se. Chegando a velhice, se tornavam uma coleção de imagens úteis apenas para nos lembrarmos que já fomos jovens cercados de outros jovens.

Hoje lembrei desses textos, pois li no blog da Ana um sobre o mesmo assunto. Parece que o tempo vai passando e a gente vai se preocupando cada dia mais com essa coisa de amigos. Embora eu tenha escrito aquele texto há 12 anos, na verdade não me preocupava realmente com isso. Estava só tentando prever o futuro, com minha visão pessimista de mundo - coisa que eu tenho tendência a fazer e meus diários são repletos dessas predições.

De uns anos para cá comecei a me questionar sobre esse assunto, pois meu círculo de amigos foi ficando cada vez mais restrito. Lembro-me de minha mãe que dizia que ela tinha três amigos e estava em bom número. Três amigos. Eu que sempre tive dezenas, em todos os lugares, de todos os grupos, de todas as idades, nunca entendi como podia ser isso.

Sempre achei que amizade não está atrelada a freqüência, a idade, a tempo ou a espaço. A amizade, para mim, é como uma força que une duas pessoas e que é diferente para cada duas pessoas. Brinco: cada amigo serve para uma coisa. Brinco e acredito. Querer que todos sirvam para tudo é demais. Sempre achei que esse laço, essa força, quando é realmente grande, não pode ser rompido facilmente, apenas um grande trauma o poderia abalar.

Eis que, de uma hora para outra, daqueles 10, 15, 20 amigos com quem sempre contei, sobraram 3 ou 4. Cada um por uma razão diferente. E talvez justamente porque as amizades são tão diferentes umas das outras, fatores como freqüência, distância (física) ou desentendimento, influenciam diferentemente em uma ou outra. Às vezes ainda sobra o amor, mas falta a amizade. Falta a cumplicidade, interesse, apoio...

Recentemente ouvi de pessoas diferentes que nossa amizade não as interessava mais, pois “nossas vidas são muito diferentes”. E me recusaram sob esse pretexto. Assim, simplesmente. Acho completamente inaceitável ouvir isso de alguém com quem dividi minha vida e a quem eu conheci profundamente até aquele ponto em que decidiu que eu, daquele momento em diante, não servia mais. Viram as costas e vão-se embora. Ainda assim, pelo menos, viraram as costas. Outros simplesmente deixam de encarar-nos, pretendem a sua inexistência.

Quem são os meus amigos?

Não estou falando de amizades corriqueiras porque essas tenho de montão. Pessoas até de quem gosto muito e que estão na minha vida há muito tempo. Essas pessoas que eu não tenho medo de que vão embora e que, talvez por isso mesmo, não somem nunca. São pessoas muito necessárias e potenciais grandes amigos, mas que, na verdade, formam aquele segundo time.

Ando procurando descobrir quem são meus amigos de verdade. Quem são as pessoas necessárias para a minha vida. Descobri-me cada dia mais carente das pessoas que nunca achei que fossem “passar”, mas passaram. E tentando descobrir quem seriam as novas pessoas para cobrir esses buracos.

Será que elas existem?

Volto-me cada vez mais para minha família e acho que eu tenho, pelo menos, três grandes amigos.

Que esses durem para sempre.

Nenhum comentário: